Uma área pouco explorada e cheia de
mistérios. Assim é o Seridó do Rio Grande do Norte, o qual,
apesar de ser bastante conhecido por sua gente, queijo e
carne de sol, esconde riquezas que estão além do olho comum.
A terra da scheelita carrega em suas costas marcas, imagens
e memórias que a constituem um dos lugares únicos no
planeta. No coração do Seridó Oriental, uma porção de terra
que reúne seis municípios e milhões de anos de história pode
se tornar o mais novo geoparque do Brasil e um dos poucos,
na América Latina, reconhecidos pela Organização das Nações
Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco).
Estabelecido em uma área de 2.800
quilômetros quadrados, o Geoparque Seridó abraça os
municípios de Cerro Corá, Lagoa Nova, Currais Novos, Acari,
Carnaúba dos Dantas e Parelhas. Cada um desses lugares
possui características muito específicas, culturas e
comportamentos significativos para constituição dessa região
maior, que é o Seridó potiguar. Questões essas que também
importam à Unesco na hora do reconhecimento, o que pode
acontecer em setembro do ano que vem.
Segundo
Marcos Nascimento, professor de Geologia da UFRN e
coordenador científico do projeto que defende a candidatura
desse território, esse trabalho se baseia na tríade da
conservação, educação e turismo. “Geoparques são áreas
geográficas únicas e unificadas, nas quais há locais e
paisagens de significado geológico internacional, sendo
gerados com um conceito holístico de proteção, educação e
desenvolvimento sustentável”, explica.
O Geoparque Seridó tem ainda 21
geossítios que imprimem, cada um deles, traços bastante
singulares, são eles Serra Verde, Cruzeiro de Cerro Corá,
Nascente do Rio Potengi, Vale Vulcânico, Mirante de Santa
Rita, Tanque dos Poscianos, Lagoa do Santo, Pico do Totoró,
Mina Brejuí, Cânions dos Apertados, Açude Gargalheiras, Poço
do Arroz, Cruzeiro de Acari, Morro do Cruzeiro, Marmitas do
Rio Carnaúba, Serra da Rajada, Monte do Galo, Xiquexique,
Cachoeira dos Fundões, Açude Boqueirão e Mirador.
Os nomes já permitem depreender as
formações a que se referem. Lugares tão interessantes e
distintos que possibilitam olhares muito diferentes. Água,
serras, formações rochosas, rochas vulcânicas e áreas de
exploração de minérios. É o caso da Brejuí, a maior mina de
scheelita da América do Sul, localizada no município de
Currais Novos, que tem sido um dos principais pontos de
atração de turistas da região. Visitada frequentemente, já
atraiu mais de 20 mil pessoas nos últimos anos.
A scheelita é o mineral do qual se
extrai o tungstênio, não só utilizado para a produção de
filamentos de lâmpadas incandescentes, mas também utilizado
na indústria eletrônica, petrolífera e da construção. Seu
apogeu aconteceu durante a Segunda Guerra Mundial, quando o
Brasil forneceu toneladas de minérios às indústrias do aço.
Isso fez nascer diversos lugares de exploração, além de
Brejuí, como em Barra Verde e Acauã, assim como outros
inúmeros garimpos menores dessa região.
Uma das áreas mais áridas do mundo, o
Seridó, que tem temperaturas acima de 27 graus, podendo
chegar a 40 graus, é construída pela caatinga, que possui
flora e fauna exclusivamente brasileiras. Inclusive, é no
Geoparque Seridó onde nasce o rio mais importante do Rio
Grande do Norte, pelo menos do ponto de vista histórico. Das
entranhas do município de Cerro Corá surge o Rio Potengi,
primeiro chamado de Rio Grande, que originou o nome do
estado.
Tudo isso levou Marcos Nascimento e
equipe a investigarem a região, não só na possibilidade de
criar um ambiente de popularização do conhecimento
geológico, por meio da educação, mas também histórico e
cultural, buscando características potenciais, econômicas e
sociais. “Passamos esses últimos anos trabalhando
efetivamente no território, promovendo divulgação do
conhecimento geológico e de conservação e realizando várias
ações voltadas para educação e também para o desenvolvimento
do turismo. Isso também favorece a divulgação do território,
não só a nível regional, mas nacional e internacional”,
relata Marcos.
Em novembro, o Geoparque Seridó lançou
a candidatura oficial para o Programa Mundial de Geoparques
da Unesco, que já confirmou o recebimento de toda a
documentação solicitada. A expectativa agora se volta para
2020, quando saberemos se o RN entra para o seleto grupo de
geoparques no mundo.
Projeto de extensão
O projeto de extensão da UFRN
Geoparque Seridó estuda a área e reúne professores, alunos e
a comunidade externa de moradores dos municípios,
emparelhados em prol da região. Desde abril de 2010, em uma
parceria da Universidade e o Serviço Geológico do Brasil, a
área começou a ser mapeada com a finalidade de buscar um
patrimônio geológico único no mundo. De lá para cá, os seis
municípios receberam professores e alunos de diversos cursos
(Geologia, Geografia e Turismo, por exemplo) com vontade de
desbravar esse território inexplorado.
Nos trabalhos de campo, notou-se que o
patrimônio do Geoparque tem milhões e até bilhões de anos.
Há formações rochosas com dois bilhões de anos e paisagens
com relevos de mais de 20 milhões de anos.
Além dessas descobertas, o grupo
também realizou palestras nas localidades, explicando à
população a funcionalidade de um geoparque e a importância
que tem esse território seridoense. Afinal, isso é extensão:
levar o conhecimento desenvolvido na universidade para a
comunidade, quebrando o argumento que a universidade fica
apenas em si mesma.
Marcos conta que, após a descoberta,
os gestores públicos enxergaram o projeto como uma forma de
promover, e também desenvolver, o território de uma forma
sustentável. Atualmente, está sendo criado o Consórcio
Público Intermunicipal Geoparque Seridó, uma ligação entre
os municípios, a UFRN e o Governo do Estado. O RN acabou se
unindo a fim de levar o projeto para frente e conseguir o
destaque mundial.
Geoparque
Seridó em suas mãos
Para quem ficou curioso e quer ver um
pouco mais do Geoparque, pode acessar no Google Play o aplicativo
Geoparque Seridó, que é o
primeiro GeoApp dedicado a geoparques no Brasil. A
finalidade é levar o conhecimento da geodiversidade e do
patrimônio geológico dos 21 geossítios das seis cidades.
Nele, é possível encontrar o mapeamento de cada geossítio,
com sua localização, foto e descrição geológica, contando se
há, entre outros itens, algum mineral ou rocha de destaque,
pinturas rupestres e sítio arqueológico.
Com o aplicativo na palma da mão, essa
é uma forma de as pessoas conhecerem a localidade, podendo,
desse modo, aumentar a possibilidade do turismo — uma parte
da tríade do conceito dos geoparques — para a localidade.
Um momento histórico e
mais um grande passo na caminhada rumo ao reconhecimento
como Geoparque Mundial da Unesco: foi realizada nesta
sexta-feira, 29, a assinatura do dossiê do Geoparque
Caminhos dos Cânions do Sul. A cerimônia aconteceu no
auditório da Prefeitura de Praia Grande (SC) e contou com a
participação de autoridades, técnicos envolvidos com o
projeto e da comunidade da região.
O Geoparque é uma iniciativa formada por sete municípios do
Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, trabalhando juntos
com o objetivo de impulsionar o desenvolvimento econômico da
região, por meio da valorização do patrimônio natural e
cultural e do turismo sustentável. A entrega do dossiê
representa uma das principais etapas no processo de
avaliação para verificar se o território pode ser realmente
considerado um Geoparque conforme os critérios do programa
de Geoparques da Unesco que valoriza territórios formados
por sítios e paisagens de reconhecida relevância para a
compreensão sobre a história geológica da Terra.
O dossiê contém uma série de informações detalhadas sobre a
geologia da região, a estrutura de gestão e os trabalhos que
vem sendo desenvolvidos nas áreas de educação e promoção do
turismo sustentável. Os documentos foram formalmente
enviados hoje mesmo à sede da Unesco, em Paris, através do
Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty). No mundo,
existem atualmente 147 Geoparques em 41 paises. No Brasil,
temos um: o Geopark Araripe, no Ceará.
Na cerimônia, o prefeito Valdionir Rocha, de Morro Grande
(SC), presidente do Consórcio Intermunicipal Caminhos dos
Cânions do Sul, destacou a importância do projeto para o
desenvolvimento da região, agradeceu a todos os parceiros
envolvidos, aos educadores engajados, às lideranças
políticas que ajudaram com a destinação de recursos para a
iniciativa e fez um reconhecimento especial à dedicação da
equipe técnica.
A mesa de autoridades do evento também foi composta pelos
prefeitos de Cambará do Sul (RS), Shamberlaen José
Silvestre; de Mampituba (RS), Dirceu Selau; de Praia Grande
(SC), Henrique Maciel; de Timbé do Sul (SC), Roberto Biava;
de Jacinto Machado (SC), João Batista Mezzari; e pelo
secretário de Turismo de Torres (RS), Fernando Nery,
representando o prefeito Carlos Souza. Também fizeram parte
da mesa e reafirmaram seu apoio à iniciativa, os deputados
federais Lucas Redecker (RS) e Geovania de Sá (SC); a
presidente da Agência de Desenvolvimento do Turismo de Santa
Catarina (Santur), Flavia Didomenico; e o diretor do ICMBio,
Fábio Veloso. Durante a cerimônia, foram realizadas ainda
homenagens à grande contribuição das seguintes instituições
envolvidas na criação do Projeto Geoparque: a Agência de
Desenvolvimento Regional de Santa Catarina (ADR),
representanda por Sung Chen Lin; à Associação dos Municípios
do Extremo Sul Catarinense (Amesc), representada pela
diretora Helen Becker, e à CPRM – Serviço Geológico do
Brasil, representada pela superintendente Lucy Chemale.
O próximo passo do processo de aplicação como Geoparque
Mundial é a visita de dois avaliadores da Unesco para
conhecer o território, que deve acontecer entre os meses de
maio e agosto de 2020.
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